A língua portuguesa é especialmente rica.
Tanto gramaticalmente, com uma das conjugações verbais mais amplas do mundo, vários tempos e modos que não existem em outros idiomas, quanto em relação à infinita quantidade de palavras, fonemas, gírias, expressões e metáforas que só o brasileiro compreende. Isso sem mencionar o delicioso senso de humor, a sagacidade e a capacidade de associar inúmeras referências, que faz de nós, um povo recordista no quesito trocadilhos e ótimos memes.
Essa imensidão da língua portuguesa não apenas desafia os aprendizes, mas também enriquece experiências e reflete a vibrante mistura cultural brasileira. Porém, como se não bastasse tantas opções para nos expressar, no Brasil há muitos termos originários de outras línguas que foram incorporados ao nosso dia a dia. Alguns bastante conhecidos como estrangeirismos e outros que acabam até passando batido e ganham pronúncia totalmente local, em especial da língua inglesa, que está presente no dia a dia de todos os brasileiros, mesmo daqueles que nunca estudaram e não têm o domínio do idioma.
Quem nunca foi ao “shopping”, a um “show” ou se hospedou em um “hotel”? Aposto também que você já pediu um “delivery” por preguiça de cozinhar em casa ou fez o “download” de um “app”?
Esses termos estão na ponta da nossa língua a todo momento por diversos motivos como a popularidade mundial que acabam ganhando, praticidade em comunicar uma ideia que nos falta uma palavra mais precisa e concisa, apelo e presença delas nas redes sociais e, por vezes, uma tradução direta e óbvia para aquilo que ela dá nome.

Para começar com um bom exemplo de enorme popularidade, entre os amantes de cinema e de outros produtos culturais como livros e séries, há quem ame e quem odeie receber um “spoiler”, que significa saber o final de um filme, por exemplo, antes mesmo de assistí-lo e consequentemente, impossibilita as surpresas acerca do roteiro. Mas você sabia que a expressão vem do verbo “spoil”, que traduzindo literalmente, significa “estragar”, ou seja, em princípio, o spoiler teria a capacidade de realmente frustrar a experiência do espectador. A praticidade e perspicácia dela a tornou praticamente uma palavra internacional que raramente é traduzida.

A palavra “hobby” vem do inglês antigo, "hobyn", que se referia a um cavalo de brinquedo, algo que as pessoas costumavam montar para se divertir. O termo evoluiu para a forma que conhecemos atualmente e significa um passatempo ou atividade feita exclusivamente por prazer. O termo é mais curto, conciso, prático e provavelmente por esses motivos, acabou sendo agregado ao vocabulário brasileiro, já que o conceito não conta com um equivalente direto em português com a mesma conotação. Palavras como "passatempo" ou "atividade de lazer" podem ser usados para substituí-la, mas ainda fica a sensação de que não passamos exatamente aquela ideia que tínhamos em mente.
De origem japonesa, a palavra “tsunami” remete a uma grande onda causada por eventos como terremotos submarinos. O que faz todo sentido, já que o significado na terra do sol nascente, une ”tsu" (porto) e "nami" (onda). A palavra acabou sendo adotada sem tradução no português porque, além de descrever um fenômeno específico que não tinha um nome equivalente preciso, o uso global da palavra se popularizou após eventos catastróficos amplamente noticiados, como o tsunami no Oceano Índico em 2004. O termo foi então adotado pela precisão e familiaridade internacional.

Imagem: A Grande Onda de Kanagawa - Katsushika Hokusai
Quando nos referimos a “crush”, somos facilmente compreendidos, já que embora existam algumas opções para substituí-la, a mesma simplicidade, informalidade e o sentido leve e passageiro do termos descreve facilmente um interesse romântico que poderia ser difícil de descrever.
Já a palavra “pedigree”, que é usada para atestar a linhagem de animais, certificando que trata-se de um exemplar de determinada raça, é originário da expressão francesa antiga “pied de grue”, A expressão fazia referência à aparência dos galhos em uma árvore genealógica, que pareciam os rastros de um pé de grou. No século XV, essa expressão passou a ser usada no inglês para se referir à linhagem ou árvore genealógica de animais. No português, adotamos "pedigree" do inglês sem traduzi-la porque, muitas vezes, palavras ligadas a certos conceitos especializados (como criação de animais) são mantidas na língua original por serem termos técnicos amplamente reconhecidos internacionalmente. Além disso, a palavra tem um tom de prestígio e autenticidade, que talvez se perca se fosse traduzida.
Inevitavelmente, muitas das palavras que remetem à tecnologia, vêm do inglês, uma vez que os Estados Unidos há muito tempo despontam no investimento em ciência e inovação. Dessa forma, a história do nome “Pen drive”, não é diferente e se refere à praticidade da dimensão do produto, como uma “caneta” que tem tampa e cabe no bolso, combinado a “drive”, pois retém dados tal como um “hard disk drive”.

De origem no termo “kitte”, do holandês medieval, a palavra “kit”, que hoje significa “um conjunto de objetos que são agregados para uma finalidade específica", se referia a uma espécie de caixa ou recipiente pequeno. Com o tempo, o significado evoluiu para descrever não só o recipiente, mas também o conteúdo que era guardado neles – um conjunto de itens ou equipamentos relacionados a uma função específica. É assim que hoje usamos "kit" para descrever conjuntos de utensílios ou materiais, como um "kit de primeiros socorros" de "kit de maquiagem" ou um "kit de ferramentas".
Que com o avanço da globalização a gente pode viajar por aí, aprender idiomas com mais facilidade e acessibilidade e mergulhar em outras culturas às vezes com só um clique, você já sabia. Mas é interessante pensar como as palavras viajam e bagunçam dicionários há muito tempo, né? É realmente incrível como palavras podem rodar o mundo!
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